Controle do espaço: o novo desafio para as grandes potências

Conquista do espaço
Missão bem-sucedida da Índia chegou à Lua em 2023. Foto: Reprodução.

Uma nova corrida geopolítica para o controle do espaço parece estar em curso. Ao estilo da Guerra Fria, cada vez mais países competem para chegar à Lua e ao estudo de seus recursos naturais. O assunto parece ser cada vez mais estratégico para os países mais desenvolvidos.

Graças aos avanços tecnológicos e ao número crescente de missões, este novo desafio se impõe aos Estados Unidos, seus parceiros, além da China e da Rússia. E essa nova deverá ter repercussões significativas. A expectativa é que a exploração eficaz dos recursos lunares traga importantes vantagens econômicas e estratégicas às potências vitoriosas.

2023 DEU INÍCIO À NOVA CORRIDA

Em 2023, o mundo testemunhou uma nova e altamente disputada corrida pelo controle do espaço. Dela participaram alguns dos países mais desenvolvidos. É a segunda vez na história que diferentes países competem para chegar à Lua, depois da histórica rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética iniciada no final da década de 1950.

Porém, a comparação com a década de 1960 tem limites. Agora, o objetivo não é apenas tocar a superfície lunar e retornar à Terra, mas promover um desenvolvimento científico a longo prazo.

PRIMEIRA VIAGEM À LUA

Na madrugada de 21 de dezembro de 1968, três astronautas subiram em uma pequena cápsula do foguete mais poderoso já construído. Eles se preparavam para realizar a missão mais arriscada e perigosa da história da exploração: uma viagem da Terra à Lua. Se conseguissem, concretizariam uma ambição que cativou a imaginação das pessoas desde o início dos tempos. Se fracassassem, os Estados Unidos seriam forçados a ceder o domínio tecnológico à União Soviética em plena Guerra Fria. Os três homens faziam parte da tripulação da Apollo 8, a primeira missão tripulada à Lua.

Foi a vingança dos Estados Unidos contra os soviéticos, que enviaram uma máquina, o Sputnik, e um homem, Gagarin, para o espaço muito antes dos americanos. Contudo, passados quatro anos da conquista lunar, o programa Apollo foi abandonado por ser muito caro e arriscado (a missão Apollo 13 quase custou a vida de toda a tripulação).

NOVO OBJETIVO

Atualmente, o cenário do controle do espaço é de novos países entrando na lista de potências capazes de conquistar a Lua. Eles pretendem demonstrar quem possui as tecnologias mais avançadas para alcançar o novo objetivo no espaço: explorar os recursos do satélite natural da Terra. A instalação de bases permanentes é também uma das principais questões em jogo: estas poderão facilitar o acesso futuro ao planeta Marte.

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Missão da Índia chegou à Lua em 2023. Foto: Divulgação.

São quatro as nações que já conseguiram pousar pelo menos uma vez na superfície lunar: Estados Unidos, Rússia (antiga União Soviética), China e Índia. A lista de candidatos a este clube exclusivo inclui a Coreia do Sul e o Japão, que lançaram as suas próprias missões e parecem ter potencial para atingir os seus ambiciosos objectivos. Um clube privilegiado onde os antigos sócios não deram a última palavra para repetir feitos do passado e reafirmar a sua liderança neste domínio.

MISSÃO JAPONESA

Na verdade, o Japão poderá em breve se juntar ao seleto grupo de países que pousaram na Lua. A Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) anunciou sua intenção de que a espaçonave robótica SLIM (“Smart Lander for Investigating Moon”) pouse pela primeira vez na Lua em 19 de janeiro.

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Voltar à Lua não é apenas uma aposta competitiva. Também oferece às nações oportunidades de cooperação internacional, enquanto mais de 20 países anunciaram planos para realizar expedições. Assim como os Estados Unidos aproveitam os avanços comerciais, também colaboram com parceiros internacionais. Por exemplo, Europa, Japão e Canadá já se juntaram aos americanos no projeto Lunar Gateway, estação espacial que orbitará a Lua e cujos primeiros módulos serão lançados em 2025.

Além disso, Washington procura apoio internacional para os Acordos Artemis, um conjunto de princípios para a exploração e desenvolvimento lunar responsável. Até Julho deste ano, vinte e sete países tinham assinado os acordos. Isto inclui não apenas aliados próximos, como o Reino Unido, o Canadá e o Japão, mas também parceiros menos tradicionais, como o Ruanda, a Nigéria e os Emirados Árabes Unidos. Ademais, a assinatura dos acordos pela Índia em Junho de 2023 foi vista como um sinal de reforço dos laços bilaterais.

Deve-se notar que o programa lunar chinês também enfatiza a participação internacional. Em 2021, o gigante asiático anunciou planos para desenvolver a Estação Internacional de Pesquisa Lunar em colaboração com a Rússia, e também convidou outros países a aderirem. Suécia, França, Itália, Paquistão e Emirados Árabes Unidos participarão na sua próxima missão de aterragem na Lua.

MINERAÇÃO ESPACIAL

Nas próximas décadas, a mineração espacial será um dos principais focos da atividade espacial comercial. Existe a possibilidade de extrair oxigênio e hidrogênio do gelo lunar para produzir combustível para foguetes e manter bases ocupadas por humanos. Além disso, os asteroides próximos à Terra possuem fontes de água e contêm recursos minerais preciosos, como carbono, ligas de níquel-ferro e metais do grupo da platina. Isto revelar-se-á valioso à medida que se intensificarem os esforços para olhar para além da escassez dos recursos não renováveis ​​da Terra, para a realidade confrontada com as alterações climáticas.

PRODUÇÃO DE ENERGIA

Existem também países que desejam obter hélio-3. Em teoria, sua utilização serviria para criar a fusão nuclear, o “Santo Graal” da produção de energia, uma vez que produziria maiores quantidades de energia do que a fissão nuclear, mas é muito menos radioativo. Na Terra, apenas 0,0001% do hélio é hélio-3, mas na Lua pode haver um milhão de toneladas.

Os especialistas sugerem que serão necessárias décadas até que muitas atividades, como a extração mineral ou a captação de energia solar na Lua, gerem lucro.

INOVAÇÃO COMERCIAL

Entretanto, os programas espaciais governamentais podem aproveitar a inovação comercial para reduzir custos, estimular a inovação e acelerar os seus programas de controle do espaço. E algumas atividades comerciais, como o turismo lunar, podem ser lucrativas num futuro próximo. Na verdade, a SpaceX já vendeu uma viagem à Lua, com lançamento previsto para 2024.

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