Reportagem fala em “PF do Xandão” e revanchismo na corporação

PF do Xandão
O ex-ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Foto: Agência Brasil.

Uma reportagem da Revista Crusoé, do Grupo O Antagonista, revela que ao longo do primeiro ano do Governo Lula 3 não houve um esforço real para desfazer a antiga crença de que há utilização das corporações como arma em função de interesses políticos. Ao contrário, o que se viu foi a existência de uma perseguição de grupos dentro da corporação. E até o que se apelidou de “PF do Xandão”, em referência a um grupo de delegados próximos ao Ministro Alexandre de Moraes.

Nos últimos meses, especialmente dentro da PF, consolidou-se a percepção de que, em vez de ser um órgão técnico e neutro, ela passou a refletir a polarização entre petismo e bolsonarismo no país. Além disso, nada foi feito para modificar uma situação anômala. Por exemplo, a influência direta do ministro do STF Alexandre de Moraes em um grupo de delegados que conduzem inquéritos sobre os chamados “atos antidemocráticos” e o 8 de Janeiro.

NOS ESTADOS UNIDOS HÁ INSTITUCIONALIDADE

Nos Estados Unidos, o Federal Bureau of Investigation (FBI) desempenha papel semelhante ao da PF no Brasil. James A. Wray dirige o órgão desde 2017 e permaneceu no cargo no Governo Biden. No Brasil, a confiança nas instituições ainda está longe desse nível. Os políticos brasileiros operam seguindo a lógica de José Dirceu, que afirmou, há cerca de 20 anos, que seu partido só se tornaria dono do governo quando controlasse a PF, misturando temores de inimigos e o desejo de usar o aparato policial para seus interesses.

BOLSONARISMO E LULISMO

Jair Bolsonaro, conhecido por sua desconfiança, realizou diversas trocas no comando da PF durante seu mandato, gerando uma situação controversa, culminando no pedido de demissão de Sergio Moro em abril de 2020. Lula, ao retornar em 2023, colocou sob sua mira dois grupos da PF: os ligados à Lava Jato e os identificados como bolsonaristas. A escolha de seu governo por Andrei Rodrigues como diretor-geral gerou controvérsias devido à falta de experiência em cargos de superintendência.

A nova gestão da PF demonstrou disposição para atos de represália, transferindo delegados da Lava Jato para posições menos destacadas. Delegados alinhados à esquerda ganharam cargos estratégicos, como Rodrigo Morais Fernandes, conhecido como Rodrigo Mineiro, que presidiu o inquérito do caso Adélio Bispo.

Além disso, Lula expressamente pediu a Ricardo Lewandowski que mantivesse Andrei Rodrigues na PF ao assumir o Ministério da Justiça. O governo evita medidas “espetaculares” nas investigações, ao mesmo tempo em que permite aumento de salários e concursos públicos na PF.

“PF DO XANDÃO”

Bolsonaro, por sua vez, critica a “espetacularização” da PF, mencionando tentativas de associá-lo ao assassinato de Marielle Franco. Deputados bolsonaristas temem ser alvos da “PF do Alexandre de Morais“, que atua em sintonia política com o governo petista.

Alexandre de Moraes autorizou diligências nos endereços da família Bolsonaro, investigando a formação de uma “Abin paralela”. No entanto, as investigações dessa “PF do Xandão” têm tido tropeços, com casos de erro na identificação de suspeitos e operações mal planejadas.

Esses episódios indicam uma estranha pressa nas ações da PF. Os atropelos da “PF do Xandão” não devem ser subestimados. E a ligação direta entre um ministro do STF e uma equipe de investigação policial é uma novidade que não pode ser naturalizada. A captura da PF por interesses políticos é um mal maior, e eliminar esse hábito é essencial para que a PF se torne uma instituição de Estado.

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