O Presidente da República Jair Bolsonaro afirmou à Polícia Federal em depoimento que o ex-ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) teria condicionado a substituição do então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, pelo diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, desde que ele fosse indicado a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
O depoimento foi prestado à PF na noite de quarta-feira (03/11), no Palácio do Planalto.
“Que ao indicar o DPF (Delegado de Polícia Federal) Ramagem ao ex-ministro Sérgio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-Ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”, diz o depoimento de Bolsonaro.
O presidente explicou que cobrou de Moro um maior “empenho” em investigações envolvendo Adélio Bispo e o porteiro do condomínio Vivendas da Barra. O porteiro afirmou ter visto o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz dizer que estava indo à casa 58 do condomínio, a casa de Bolsonaro, no dia do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco. Élcio Vieira de Queiroz é réu pelo homicídio da ex-vereadora.
Bolsonaro disse ainda que, apesar de “insistentes pedidos” para Moro, ele “não observou nenhum empenho ou preocupação do ex-ministro Sérgio Moro em solucionar rapidamente o caso”.
O presidente foi ouvido como investigado no inquérito sobre sua suposta interferência política na PF. A investigação foi instaurada em abril do ano passado, logo após à demissão de Sérgio Moro, que acusou o presidente de atuar para substituir o comando da corporação por razões pessoais.
Com a saída do ministro, Bolsonaro demitiu Valeixo, escolhido por Moro para a direção da PF. No lugar de Valeixo, Bolsonaro tentou nomear o diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, nome próximo da família do presidente. A iniciativa foi barrada por decisão de Alexandre de Moraes, que suspendeu a indicação.
Em nota, a defesa de Moro afirmou nesta quinta-feira (04/11) que foi “surpreendida” com a informação de que o presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal. O criminalista Rodrigo Sánchez Rios disse que não foi comunicado com antecedência para participar da oitiva.
“A Defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela notícia de que o presidente da República, investigado no Inquérito 4831, prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do ex-ministro fosse intimada e comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado”, disse Rios. “A adoção de procedimento diverso para os dois coinvestigados não se justifica, tendo em vista a necessária isonomia entre os depoentes”.