A morte de Zagallo às 23h40 desta sexta-feira (05/01), aos 92 anos, comoveu os brasileiros. Campeoníssimo, sua trajetória como o desportista mais vitorioso do Brasil tem sido destaque nas notícias e obituários ao longo deste sábado (06/01).
Mas há muito mais a dizer de Zagallo além do fato de ser a única pessoa a trabalhar em quatro títulos de Copa do Mundo: em 1958 e 1962, como jogador, em 1970, como técnico, e em 1994, como coordenador técnico.
Zagallo também foi um homem exemplar e de princípios. Mas, não poderia ser diferente. O sucesso acompanha quem age com honradez, com honestidade, lealdade e não poupa dedicação para o trabalho. Além disso, Zagallo também foi um exemplar chefe de família.
FAMÍLIA
Zagallo foi casado por 57 anos com Dona Alcina, falecida em 2012. Para que o casamento ocorresse, os namorados precisaram superar o preconceito dos pais da moça, que não queriam que ela casasse com um jogador de futebol, algo malvisto na época.
Do casamento vieram quatro filhos: Mario, Paulo, Maria Cristina e Maria Emília.
A nota oficial da família informando o falecimento de Zagallo deu o tom do chefe de família que ele foi:
“É com enorme pesar que informamos o falecimento de nosso eterno tetracampeão mundial Mario Jorge Lobo Zagallo.
Um pai devotado, avô amoroso, sogro carinhoso, amigo fiel, profissional vitorioso e um grande ser humano. Ídolo gigante. Um patriota que nos deixa um legado de grandes conquistas.
Agradecemos a Deus pelo tempo que pudemos conviver com você e pedimos ao Pai que encontremos conforto nas boas lembranças e no grande exemplo que você nos deixa”.
RELIGIÃO
Zagallo era um homem de fé. E da fé veio a sua relação com o número 13, com o qual sempre brincava. Igualmente religiosa, sua esposa Alcina que inaugurou nele essa relação com o número 13.
É que a memória do santo de devoção do casal, Santo Antônio, é celebrada no dia 13 de junho. Assim, o profissional sempre se apegou ao número ao longo de sua carreira vitoriosa.
Sua primeira Copa do Mundo, por exemplo, foi conquistada em 1958: 5+8 = 13. Além disso, em 1966 virou treinador e, no ano seguinte, já foi campeão carioca pelo Botafogo: 6+7 = 13. Anos depois, conquistou a Copa do Mundo de 1994, como auxiliar de Carlos Alberto Parreira: 9+4=13.
HONESTO, BRILHANTE, FRANCO E PATRIOTA
O jornalista Wellington Campos, das rádios Itatiaia (MG) e Tupi escreveu um texto para agradecer por poder “estar diariamente com Zagallo em inúmeras coberturas pelo planeta terra. Dele tentei extrair o seu melhor”. Além disso, revelou os valores de Zagallo: “Dignidade, um ser honesto e brilhante em tudo”.
“Zagallo gozava de uma enorme popularidade junto aos torcedores, que gostavam da sua franqueza e do seu patriotismo”, disse o jornal francês L’Équipe.
MELHOR AMIGO
Em entrevista a um canal de TV, o também treinador Carlos Alberto Parreira revelou seu sentimento ao receber a notícia da morte de Zagallo.
“Uma notícia muito triste, devastadora. Zagallo era meu melhor amigo no futebol, meu mestre. O cara me ajudou, me protegeu, me ensinou tudo que eu aprendi no futebol. Um privilegio meu tê-lo ao meu lado por tantos anos. Não foi só em 1994. Comecei em 1970 com o Zagallo. Fomos amigos, companheiros e profissionais ao longo de 52 anos. Agradeço a Deus a oportunidade que tive de aprender com uma pessoa generosa como ele”, disse Parreira.
UM PAI
O ex-jogador Cafu foi além, e classificou Zagallo como um pai para ele:
“Tive no Zagallo não só um treinador, mas amigo, pai, companheiro, mestre, me ensinou muito. Nosso respeito era mútuo e muito grande. Sentávamos depois dos jogos e dávamos risada. Essa imagem da alegria e do comprometimento que vai ficar. Juntamos a fome com a vontade de comer. Amamos tanto a Seleção e quando se fala de Zagallo, fala de seleção brasileira”, disse Cafu.
Da mesma forma se referiu Bebeto, tetracampeão com Zagallo nos Estados Unidos:
“Perdemos nosso Velho Lobo Zagallo e eu perdi um pai que o futebol me deu”, escreveu Bebeto no Instagram.
“VOCÊS VÃO TER QUE ME ENGOLIR”: A REAÇÃO À PERSEGUIÇÃO DE UM MILITANTE DE ESQUERDA
Um desabafo. “Vocês vão ter que me engolir”. Foi dessa maneira que Zagallo comemorou a conquista da Copa América de 1997 no comando da Seleção Brasileira. Anteriormente ao título, o treinador vinha sofrendo uma dura campanha contra seu trabalho.
O militante de esquerda e colunista da Folha de S. Paulo, Juca Kfouri, perseguia Zagallo e fazia campanha por sua substituição por Vanderlei Luxemburgo. O próprio Zagallo revelou ao UOL em 2017 que seu desabafo naquele momento se deu por isso.
REPERCUSSÃO
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou um vídeo, de 2019, com o ex-técnico de futebol Mario Jorge Lobo Zagallo. Além disso, Bolsonaro também desejou “que Deus, em sua infinita bondade, o acolha em seus braços e conforte seus familiares, amigos e admiradores”.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, lamentou a morte de Mário Jorge Lobo Zagallo e decreto luto oficial de sete dias na instituição:
“A CBF decreta luto de sete dias em homenagem à memória do seu eterno campeão e se compromete em reverenciar o seu legado. Em 2022, inauguramos uma estátua em homenagem ao eterno campeão no Museu da CBF e não esqueceremos da emoção que compartilhamos“, diz a nota da CBF.
O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP), alagoano assim como Zagallo, também o homenageou:
“Zagallo foi ímpar no seu patriotismo, na demonstração de amor pelo Brasil e pela “amarelinha”, como carinhosamente chamava a camisa da seleção brasileira. Alagoas se orgulha de ter dado ao país um ser humano diferenciado. Seu legado ficará para sempre. Só podemos dizer obrigado por tudo. Descanse em paz nosso velho lobo Zagallo”, disse Lira.
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